10.8.06

O acesso ao mundo digital significa uma vida melhor?

Colocar todos online é um desafio difícil, principalmente nos países em desenvolvimento. Essa foi uma grande discussão no World Congress on Information Technology, que ocorreu este ano em Austin. Essa conferência se diferencia de outras por sua ênfase nas preocupações globais e governamentais sobre TI, com representantes de mais de 80 países entre cerca da metade dos participantes.
Vários CEOs das maiores empresas falaram sobre a necessidade de mais acesso ao mundo digital. Entre as estatísticas citadas hoje estava a de que apenas 15% tem acesso à internet, e apenas 4% tem banda larga.
Michael Dell falou sobre como o mercado de PCs triplicou nos últimos 10 anos, como a proliferação resultou em um movimento mais rápido da tecnologia, e como a TI se tornou o principal motor do crescimento econômico. Citou um estudo que indicava que o investimento em TI contribuiu para o crescimento do PIB para 27% das grandes economias industriais entre 1995 e 2003.
A Dell deu exemplos de países que usaram a TI para melhorar suas economias, incluindo Índia, China, Coréia do Sul, Irlanda e Malásia. Ele notou como países mais pobres tais como a Etiópia começaram a investir em TI, mas ainda assim, em 2004, apenas 12.4% do mundo tem acesso a um PC. A maioria das estratégias para levar a tecnologia para as pessoas nesses países se trata de PCs baratos.
O CEO da AMD Hector Ruiz falou sobre como o programa 50x15 de sua empresa, que tem como objetivo colocar metade do mundo online até 2015. (A AMD diz que, se as previsões se confirmarem, 50% da penetração só seria atingida em 2030.) Parte dessa iniciativa é o produto da empresa Personal Internet Communicator (PIC), uma pequena máquina com um pequeno processador e uma versão embutida do Windows CE, que foi distribuída para delegados na conferência. Destinado a navegação web, o PIC é vendido por menos de US$300, apesar de você precisar adicionar outro monitor.
O CEO da Intel Paul Otellini concordou com a necessidade básica de fazer com que mais pessoas fiquem online mas sugeriu uma "abordagem holística"—já que as pessoas precisam não apenas de um computador mas também de uma conexão banda larga e educação. "Ninguém quer fazer a inclusão digital usando tecnologia do passado," disse. A Intel planeja investir muito dinheiro no apoio à banda larga, desenvolvendo equipamentos baratos e ensinando as pessoas a usá-los. Ele mostrou várias máquinas novas, incluindo um PC barato, com drive de DVD e OS completo, que será vendido agora no México e em breve no Brasil e outros lugares; um "PC comunitário" que economiza energia, podendo funcionar com bateria de carro se faltar luz; e ainda um notebook escolar feito para crianças, com uma pequena tela colorida e software educativo, planejado de tal modo que um professor possa monitorar toda a atividade dos estudantes. Este último, de acordo com ele, estaria disponível no início de 2007 por menos de US$400. Todas as máquinas já vêm com Microsoft Windows XP.
Nicholas Negroponte do MIT Media Lab e da organização sem fins lucrativos One Laptop per Child (OLPC) mostrou um laptop de US$135 com um pequeno display a cores que funciona quase totalmente com software open source; você pode ligá-lo através de uma manivela! Deve ser lançado ainda nesse ano; a OLPC espera produzir 100 a 200 milhões de máquinas em 2007, e baixar seu preço para US$50 em 2010.
Máquinas baratas são necessárias mas não suficientes para conseguir que todos estejam online. Usuários precisarão também de acesso banda larga à internet e a educação para usar as máquinas eficientemente. Os conferencistas apresentaram várias opiniões sobre os vários papéis dos governos no fornecimento da infra-estrutura necessária. Alguns falaram sobre a necessidade de linhas para eletricidade e comunicação; outros enfatizaram o sistema educacional; e outros ainda apoiaram a idéia de um mercado aberto que dê às pessoas escolhas em tecnologia.
É claro, precisamos de tudo isso. É nos países com sistemas educacionais decentes, boa infra-estrutura, e mercados livres que a tecnologia deslanchou—e esse avanço ajudou os cidadãos dessas sociedades.